Eventos e treinamentos movimentaram o mês e impactaram centenas de profissionais da construção civil.
Uma pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 76,4% das indústrias adotam alguma prática de economia circular no país. A notícia é bem-vinda, diante do aquecimento global. A crise climática está intimamente ligada com exploração de recursos naturais e industrialização. O que espanta é que a maioria dos entrevistados (70%) nada ouviu sobre “economia circular”, antes de participar da pesquisa da CNI. Embora pouco difundido na sociedade em geral, o conceito não é novo. Alguns estudos apontam ter surgido na década de 1970, na Europa. Outros afirmam que foi em 1989, em um artigo dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. Ou seja, já está aí há décadas. O bom é que é colocado cada vez mais em prática. Mesmo que em “doses homeopáticas”, como aponta a pesquisa CNI. E em baixa escala, como se verá adiante.
Ilustração: https://eco.nomia.pt.
Por isso, até parece “modismo”. Mas não é. Tem base científica. E sua aplicação poderia ser muito maior, em benefício de um desenvolvimento econômico sustentável. O conceito é amplo. Não se aplica apenas à indústria. A economia circular prega maneiras sustentáveis de exploração dos recursos naturais, processamento e produção de bens e serviços. Além de consumo responsável. Ela defende o compartilhamento, a manutenção, a reutilização, a remanufatura e a reciclagem de materiais e produtos. Nessa última etapa, o circulo se fecha e se renova. Produtos e materiais recicláveis voltam à linha de produção. Podem ser ainda transformados em novos produtos. Evita-se, assim, mais extração e consumo de matérias-primas.
Nos tempos atuais, em que o ser humano consome muito mais do que a natureza pode oferecer, é preciso direcionar todos os holofotes para a economia circular. A fim de que seja cada vez mais aplicada. Neste ano, o Dia da Sobrecarga da Terra chegou ainda mais cedo, como vem acontecendo há 20 anos. Esse dia marca a data em que a demanda dos seres humanos pelos recursos da natureza extrapola o que os ecossistemas podem repor em um ano. Em 2019, foi em 29 de julho. Ou seja, em apenas sete meses o ser humano consumiu tudo o que deveria em um ano. Com isso, coloca em risco o abastecimento das gerações futuras.
Em relação à produção fabril, a economia circular muda o modelo convencional, que já perdura há mais de 200 anos. Está aí desde a revolução industrial. Esse modelo, que deveria estar ultrapassado, é conhecido como linear. É baseado na exploração de recursos, processamento e industrialização, consumo e descarte. Isto é, extrai, processa, consome e joga fora. É modelo que não se preocupa com a finitude dos recursos. Também gera poluição em suas diversas formas. Entre as quais, os lixões, que contaminam o meio ambiente, animais, além dos próprios seres humanos. E colocam a vida marinha em risco. Oceanos e áreas costeiras estão cada vez mais entupidos de lixo, especialmente plásticos.
Relatório da Circle Economy, divulgado em 2019, informa que as mudanças climáticas e o uso de materiais estão intrinsecamente ligados. A entidade calcula que “62% das emissões de gases do efeito estufa (excluindo-se as emissões geradas pelo uso da terra e pela silvicultura) são liberadas na atmosfera durante a extração, processamento e fabricação de bens para atender às necessidades da sociedade. Apenas 38% das emissões são dispersas na entrega e no uso dos produtos e serviços”. A Circle Economy é um grupo que trabalha para acelerar a implantação da economia circular nas organizações. Tem o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) Meio Ambiente.
A ONU diz ser crescente a utilização de matérias-primas. “Mais do que triplicou desde 1970 e poderia dobrar novamente até 2050 sem ações para conter o fenômeno.” No entanto, informa pesquisa da Circle Economy, menos de 10% da economia mundial hoje é circular: “O planeta reutiliza 9,2% das 92,8 bilhões de toneladas de minerais, combustíveis fósseis, metais e biomassa usados todos os anos em processos produtivos”. “Um mundo (mais quente em) 1,5 º C só pode ser um mundo circular. A reciclagem, uma maior eficiência de recursos e modelos de negócios circulares oferecem uma enorme janela para reduzir emissões, ainda que a reciclagem do plástico seja um problema. Uma abordagem sistemática para a aplicação dessas estratégias viraria a balança na batalha contra o aquecimento global”, afirma Harald Friedl, CEO da Circle Economy.
Friedl explica que “as estratégias para as mudanças climáticas dos governos focaram em energia renovável, em eficiência energética e em evitar o desmatamento. Mas elas ignoraram o vasto potencial da economia circular. Eles deveriam reprojetar as cadeias de suprimentos lá atrás, nos poços, campos, minas e pedreiras, onde está a origem dos nossos recursos. De modo que nós consumamos menos matérias-primas. Isso não apenas reduzirá emissões, como também impulsionará o crescimento, tornando as economias mais eficientes”.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômia